Longe da experiência vivencial de Deus, as coisas da religião, da fé, da espiritualidade permanecerão distantes do coração, da liberdade, do jeito de ser e próximas da bela teoria, da elegância das expressões, do encanto dos jogos linguísticos.
A pessoa cursilhista, o cristão cursilhista que conseguiu trilhar o caminho da experiência vivencial de Deus naquele Kairós, não atuará no mundo indiferente a sua responsabilidade de Evangelizar os Ambientes conforme o objetivo do Movimento.
Esta experiência o conduzirá a sua identidade: sou cristão, logo, sou missionário. Ser cristão-missionário foi atualizado no tema da Conferência de Aparecida: discípulo-missionário. Esta Conferência impostou claramente que a experiência com a pessoa de Jesus Messias-Deus faz o discípulo-missionário. Não é outro o caminho do Movimento de Cursilho de Cristandade. Ele quer oferecer, aos que se dispõem ao encontro, a experiência que os marcará e os impelirá à Evangelização dos Ambientes.
Não há dúvidas que esta experiência, com toda a realidade que envolve o ser humano, está submetida às ambiguidades próprias da nossa condição. Deve ser sempre julgada à luz do bom senso, do que é valor humano e cristão, enfim, à luz da fé em Deus Uno e Trino.
Karl Rahner, renomado teólogo católico, afirmou que “o Cristão do século XXI ou será místico ou não será cristão”. Em seguida, temendo ser mal entendido, acrescentou: “Desde que não se entendam por mística fenômenos parapsicológicos raros, mas uma experiência de Deus autêntica, que brota do interior da existência”.
Ocorre, hoje, uma verdadeira degradação semântica do termo mística, associando-lhe a eventos absolutamente alheios a qualquer referência religiosa. Mística, do dicionário Aurélio, “é a firme crença numa doutrina religiosa, filosófica”. Misticismo é “um estado espiritual com o divino, o sobrenatural. Doutrina que afirma a possibilidade dessa união. Religiosidade profunda.”
A mística cristã caiu vítima do racionalismo dos nossos dias, sendo silenciada por pertencer ao departamento dos sentimentos, do subjetivo, da irracionalidade, do campo das emoções. Foi silenciada, ainda, por uma sociedade que está vazia de sentido e de valores, centrada no indivíduo, no prazer, na satisfação rápida dos desejos e no materialismo capitalista.
A mística cristã é um movimento que parece brotar de nossos desejos, de nossa busca de Deus, do esforço humano de querer encontrar-se com um Deus à nossa disposição. Entretanto, é justamente o contrário pois, conforme nos ensina São João da Cruz, “Deus nos amou primeiro”. No mesmo sentido, Sto. Agostinho diz que “só O buscamos porque já O encontramos”.
A mística não é um perder-se me si mesmo, nem abraçar uma divindade qualquer, é experiência de Deus que se dá à criatura, um Deus que se dá a nós por puro amor, é justamente o encontro com a Pessoa Divina que vem até nós.
Devemos estar atentos a qualquer sussurro dessa presença para captar esse estar de Deus em nós.
O próprio Jesus teve vida mística, se mantendo íntimo do Pai, e em profunda comunhão com a sua vontade. Certamente, Jesus não dispensava a oração, que lhe proporcionava espaços de intimidade com o Pai. Porém não é somente a oração que torna o cristão místico, mas as práticas assumidas a partir da oração. Como diz em Tiago 2, 26, “Assim como o corpo sem o espírito é morto, assim também a fé, sem as obras, é morta.”
A mística cristã nos faz ir além de nós mesmos para nos lançarmos no compromisso por uma sociedade justa, fraterna e solidária. Ela nos conduz aos irmãos: “amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”.
A experiência mística mostra sua verdade no momento em que ela reflete em crescimento espiritual para aqueles que estão a nossa volta. A partir do momento em que experimentamos Deus profundamente, vivemos a mística cristã, somos capazes de doar a vida aos irmãos.
Peçamos a Deus, todos os dias, o dom e a graça de fazer da nossa vida, uma vivência contínua da mística cristã, pois somente assim encontraremos força para nossa vida pessoal e em comunidade. “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não caminhará nas trevas, mas terá a luz que conduz a vida” (Jo 8,12).
Padre Carlos Henrique
Divinópolis
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