Este ano conversando com um grande amigo, ele me falava sobre a relação do surfista e o mergulhador. Essa conversa me inspirou o texto deste mês.
Na verdade, ele narrava a diferença destes dois personagens. O surfista é um “cara” que está sempre em evidência, está sempre na “superfície” do mar, agitando em ondas radicais. Na praia não há quem não veja o surfista em cima de sua prancha deslizando sobre a água. Mas meu amigo me chamava atenção para o fato de que o surfista é um cara perito em “superfície”, o negócio dele não é profundidade, se “bobear” é caldo na certa!
O mergulhador já é bem diferente, não o avistamos da praia, ele não aparece, não está em evidência, sua dedicação está abaixo da casca, ele conhece a beleza e o mistério do profundo do oceano, e quanto mais conhece, mais descobre que conhece muito pouco.
Vivemos em um tempo de poucos mergulhadores, e uma tentação “social” que multiplica os surfistas. Nossa sociedade dita o ritmo do imediatismo, não há tempo para nada, tudo tem que ser agora, pois “o tempo não pára”. Em resposta a esse ritmo frenético, corremos desesperadamente (muitas vezes sem saber pra onde) para não sermos engolidos pelo tempo, para não ficarmos obsoletos como o disco de vinil. Vivemos a crise do agora, do imediato, que não permite ir mais profundo nos processos da vida. Somos bombardeados: “Emagreça já!” “Aprenda inglês em seis meses!” “Seja feliz agora mesmo, ligue para 0300...”. “Não fique envergonhada perto das amigas, compre a cinta que modela seu corpo.” “Não perca mais tempo!Corra! Faça agora mesmo!”
Ufa!
Há quanto tempo você não envia uma carta? Uma carta escrita a próprio punho, nada de “ctrl c” e “ctrl v”. Impensável não é mesmo? Não temos tempo para isso!
O fato é que o nosso mundo vive a crise da superficialidade. Não temos tempo para ir fundo nas questões, temos que surfar a toda velocidade sob a superfície, não há tempo para mergulhos. Convivemos com um amigo há anos, e não conhecemos suas angústias mais profundas, seus medos, seus sofrimentos, pois não temos tempo para ter “tudo em comum” como os primeiros cristãos. Temos somente a superfície em comum. A vida é experimentada essencialmente pela exterioridade. A tentação do homem moderno é viver em sua própria superfície. Ao invés de enfrentar o próprio mistério, o homem fecha os olhos e foge de si mesmo, e fugindo de si mesmo foge do encontro com o outro.
Vivemos na casca nossas relações, e o resultado é uma carência generalizada, a cada dia mais pessoas gostariam de ser ouvidas, lembradas, percebidas. Precisamos urgentemente que Jesus toque nossos olhos, ouvidos e coração, levante os olhos ao céu e diga: Efeta! Abre-te! Abrir-se ao encontro consigo, com o Cristo e com o próximo. Mas um encontro verdadeiro que suponha intimidade e intensidade, um encontro cuja exigência é “ter tempo”.
Em grande parte dos milagres de Jesus, o vemos tocando as pessoas. Esse talvez seja o grande milagre que o mundo espera: “ser tocado”. Jesus tocava no profundo do sofrimento, da dor. A cura era realizada de dentro para fora. Jesus via o que estava no mais profundo, que na verdade causava a enfermidade externa. Jesus mergulhava fundo nas questões, nas feridas e nos medos mais profundos.
O mundo espera ser tocado, esse toque afetuoso que provoca mudanças, que provoca o verdadeiro encontro consigo, com Deus e com o próximo.
É urgente pularmos de nossas pranchas e mergulharmos em “águas mais profundas”, é lá que encontraremos um alimento capaz de saciar a fome do homem moderno.
A.Luiz
Valeu Luiz por nos lembrar que precisamos ir mais longe, buscar sempre as águas mais profundas. Vivemos na época onde tudo é rápido, veloz, e isso massacra nosso ser.
ResponderExcluirPrecisamos aprender a valorizar a profundidade de cada pessoa e momento, e valorizar, sobretudo, o Deus Absoluto, que reina e vive em nós.
Leandro Meireles - Divinópolis
Isso aí André, bora sermos mergulhadores! Neste imenso oceano de ondas e tsunamis, que Jesus seja nosso farol, a referência para que não nos percamos não é.
ResponderExcluirAquela luz firme que ilumina a escuridão dos mergulhadores.
parabéns pelo post.
Luiz Augusto-cláudio