“Este texto é dedicadoao meu pai que tão bem sabe viver a caridade!”
Cidade; individuo, família, comunidade, mundo. Homem; ser feito a imagem e semelhança do criador; Deus!
Todo o cristão é chamado a praticar a caridade, conforme a sua vocação e segundo as possibilidades que tem de incidência na sociedade. Segundo o aposto São Paulo trata-se do sentimento mais importante que nos cristãos temos que possuir. Ela é amor recebido e dado; é graça! Desta forma, o cristão caminha no sentido da verdade, da justiça e do bem comum, contribuindo pra construção do reino de Deus.
Não se pode dar ao outro o que é seu, sem antes lhe ter dado aquilo que lhe compete por justiça; qual seja: o reconhecimento e o respeito dos legítimos direitos dos indivíduos, entre eles a educação.
A solidariedade sem a subsidiariedade decai no assistencialismo que humilha o sujeito necessitado.
A sociedade não se mover apenas pelas relações feitas de direitos e deveres, mas sobretudo por relações de gratuidade, misericórdia e comunhão.
A humanidade passa por profundas mudanças, sejam elas econômicas, comportamentais e de valores. É o mundo em crescente globalização. Cada cristão é parte da igreja, sendo que esta não tem solução técnica para oferecer e não pretende imiscuir-se na política dos Estados. Entretanto, temos a missão de buscar a verdade, em todo o tempo e contingência, a favor de uma sociedade à medida do homem, da sua dignidade, da sua vocação.
O desenvolvimento que vivemos nos dias de hoje requer uma visão transcendente da pessoa; necessidade de Deus. Sem ele, o desenvolvimento é negado ou acaba confiado unicamente às mãos do homem, que cai na presunção da auto - salvação e acaba por fomentar um desenvolvimento desumanizado.
Sem Deus, o homem não sabe pra onde ir e não consegue sequer compreender quem é.
O desenvolvimento para a cidade do homem passa pelo o objetivo de fazer sair os povos da fome, da miséria, das doenças endêmicas e do analfabetismo. Para tal fim, necessitamos de condições de igualdade dos países no processo econômico internacional, da evolução da sociedade instruída e solidária e da consolidação de regimes democráticos, capazes de assegurar a liberdade e a paz.
O egoísmo humano, embasado no lucro, é uma forte barreira para tal fim. Sabemos que existem formas excessivas de proteção do conhecimento por parte dos países ricos, através duma utilização demasiado rígida do direito de propriedade intelectual, especialmente no campo da saúde. Assim, os países pobres, persistem modelos culturais e normas sociais de comportamento que retardam o processo de desenvolvimento. E a graça? A caridade? E a cidade do homem; que é o reino de Deus?
O mercado, à medida que se foi tornando global, estimulou, por parte de países ricos, a busca para onde deslocar as atividades produtivas a baixo custo a fim de reduzir os preços de muitos bens, aumentar o poder de compra e deste modo acelerar o índice de desenvolvimento centrado sobre um maior consumo pelo próprio mercado interno.
Estes processos implicaram a redução das redes de segurança sociais em troca de maior vantagem competitivas no mercado global, acarretando grave perigo para os direitos dos trabalhadores, os direitos fundamentais do homem e a solidariedade atuada nas formas tradicionais do estado social.
Vivemos num mundo de grande dialogo intercultural; as culturas são simplesmente postas lado a lado e vista como substancialmente equivalentes e intercambiáveis umas com as outras. E grupos culturais se juntam ou convivam, mas separados, sem autentico dialogo e conseqüentemente, sem verdadeira integração.
Hoje a fome não é privilegio apenas de países pobres, principalmente do continente africano. A fome ceifa inúmeras vitimas entre os muitos Lázaros, a quem não é permitido a alimentação e o acesso à água como direitos universais de todos os serves humanos, sem distinções nem discriminações.
Organismos não governamentais promovem nos países pobres a adoção da pratica de esterilização, sem que as mulheres saibam. Já em outras nações, existem políticas de saúde que implicam a imposição de um forte controle dos nascimentos. Devemos indagarmos; este é o caminho para que os direitos fundamentais acima colocados sejam assegurados a todos? Este é o reino de Deus?
A abertura à vida está no centro do verdadeiro desenvolvimento.
Povos ricos, cultivando abertura à vida, podem compreender melhor as necessidades dos países pobres, evitar o emprego de enormes recursos econômicos e intelectuais para satisfazer desejos egoístas dos próprios cidadãos e promover, ao invés, ação virtuosas na perspectiva duma produção moralmente sadia e solidária, no respeito do direito fundamental de cada povo e de cada pessoa à vida.
O homem não é um átomo perdido num universo casual, mas é uma criatura de Deus, à qual ele quis dar uma alma imortal e que desde sempre amou.
Assim, quando o Estado promove, ensina ou ate impõe formas de ateísmo pratico, tira aos seus cidadãos a força moral e espiritual indispensável para se empenhar no desenvolvimento humano integral e impede-os de avançarem com renovado dinamismo no próprio compromisso de uma resposta humana mais generosa ao amor divino.
Os países economicamente desenvolvidos ou os emergentes exportam para os países pobres, no âmbito das suas relações culturais, comerciais e políticas, uma visão redutiva da pessoa e do seu destino.
Devemos destacar que a caridade não exclui o saber, antes reclama-o, promove-o e anima-o a partir de dentro. O saber nunca é obra apenas da inteligência; pode, sem duvida, ser reduzido a calculo e a experiência, mas se que ser sapiência capaz de orientar o homem à luz dos princípios primeiros e dos seus fins últimos, deve ser temperado com o sal da caridade. A ação é cega sem o saber, e este estéril sem o amor.
As desigualdades sociais tem colocado em risco o sistema democrático, ao mesmo tempo que ocorre a progressiva corrosão do capital social, isto é, daquele conjunto de relações de confiança, de credibilidade, de respeito das regras, indispensáveis em qualquer convivência civil.
A doutrina social crista nunca deixou de por em evidencia a importância que tem a justiça distributiva e a justiça social para a própria economia de mercado, não só porque integrada nas malhas de um contexto social e político mais vasto, mas também pela teia da relações em que se realiza.
A crise atual é fruto na perda da confiança.
Para sairmos dela certamente temos que ver o pobre não como um fardo, mas sim um recurso, mesmo do ponto de vista estritamente econômico.
O mercado não pode ser estruturado simplesmente no lucro. As numerosas expressões de economia que tiveram origem em iniciativas religiosas e laicas demonstram que isto é concretamente possível.
A gestão da empresa não pode ter em conta unicamente os interesses dos proprietários da mesma, mas deve preocupar-se também com as outras diversas categorias de sujeitos que contribuem para a vida da empresa: trabalhadores, os clientes, os fornecedores dos vários fatores de produção, a comunidade de refermento. Assim, investir tem sempre um significado moral, para além de econômico, uma vez que o trabalho e o conhecimento técnico são uma necessidade universal.
Retornando ao processo de globalização, este pode ser visto como a unidade da família humana e do seu desenvolvimento no bem. Para isto é preciso empenhar-se sem cessar por favorecer uma orientação cultural personalista e comunitária, aberta à transcendência, do processo de integração mundial.
Não devemos ser vitimas dela, mas protagonista, atuando com bom senso, guiados pela caridade e a verdade. Hoje podemos orientar nos na globalização por meio da humanidade em termos de relacionamento, comunhão e partilha, pois o mundo dispõe de técnicas e pessoas para que a riqueza seja redistribuída e que o pobre não mais precise das migalhas dos ricos.
A solidariedade universal é para nós não só um fato e um beneficio, mas também um dever.
As sociedades atuais vivem antagonismos. De um lado se reivindicam presuntos direitos, de carácter arbitrário e libertino, querendo vê-lo reconhecidos e promovidos pelas estruturas públicas, por outro existem direitos elementares e fundamentais violados e negados a boa parte da humanidade.
Na cidade do homem também tem lugar para sexualidade. Esta não pode ser limitada à instrução técnica, tendo como única preocupação defender os interessados de eventuais contágios ou do risco procriador. Isto equivaleria a empobrecer e negligenciar o significado profundo da sexualidade, que deve, pelo contrario, ser reconhecido e assumido responsavelmente tanto pela pessoa com pela comunidade.
Torna –se uma necessidade social, e mesmo econômica, propor as novas gerações a beleza da família e do matrimonio, a correspondência de tais instituições às exigências mais profundas do coração e da dignidade da pessoa. Assim, o Estado instaura políticas que promovem a centralização e a integridade da família, fundada o matrimonio entre um homem e uma mulher, cédula primeira e vital da sociedade.
A banalização do sexo traz grande problema, tendo com destaque o turismo sexual, muito lucrativo e muita das vezes incentivado pela família ou ate mesmo pelo Estado, obtendo nele fonte de recurso econômico. Tal comportamento é obstáculo a cidade do homem.
A economia atual busca forma de gratuidade e caridade. Hoje bancos propõem contas e fundos de investimentos chamados éticos. Desenvolvem-se as finanças éticas sobretudo através do microcrédito e, mais em geral, de microfinanciamentos, alem do credito cooperativo. Tais praticas protegem a sociedade da usura.
Neste mesmo âmbito, a saída para a crise mundial passa pelo desenvolvimento dos países pobres, funcionando como mecanismo de criação de riqueza para todos. Exemplo seria a possibilidade de se estabelecer um comercio internacional agrícola justo e equilibrado.
Quando a natureza, esta é a expressão de um desígnio de amor e de verdade. Precede-nos, tendo-nos sido dada por Deus como ambiente de vida. Fala-nos do criador e do seu amor pela humanidade. Esta destinada, no fim dos tempos, a ser instaurada em cristo. Por conseguinte, também ela é uma vocação. A natureza está à nossa disposição, não como um monte de lixo espalhado ao acaso, mas como um dom do Criador que traçou os seus ordenamentos intrínsecos dos quais o homem há - de tirar as devidas orientações para a guarda e cultivar.
O cuidado e a preservação do ambiente devem ter na devida consideração as problemáticas energéticas.
Hoje se fala muito das fontes de energia renováveis, destaque para o etanol. Tal técnica deve ser levada para os países pobres, os quais são mais necessitados.
A igreja, que somos nos, sente o peso de responsabilidade pela criação e deve fazer valer esta responsabilidade também em publico. Ao faze - lo, não tem apenas de defender a terra, a água e o ar como dons da criação que pertencem a todos, mas deve sobretudo proteger o homem da destruição de se mesmo.
Entretanto um grande mal que assola a humanidade é a solidão.
Trata-se do reducionismo neurológico; esvazia-se a interioridade do homem e, progressivamente, vai-se perdendo a noção da consistência ontológica da alma humana, com as profundidades que os Santos souberam pôr a descoberto. O problema do desenvolvimento está estritamente ligado também com a nossa concepção da alma do homem, uma vez que o nosso eu acaba muitas vezes reduzido ao psíquico, e a saúde da alma é confundida com o bem-estar emotivo.
Além do crescimento material, o desenvolvimento deve incluir o espiritual, porque a pessoa humana é « um ser uno, composto de alma e corpo, nascido do amor criador de Deus e destinado a viver eternamente.
Longe de Deus, o homem vive inquieto e está mal. A alienação social e psicológica e as inúmeras neuroses que caracterizam as sociedades opulentas devem-se também a causas de ordem espiritual.
O homem aliena-se quando fica sozinho ou se afasta da realidade, quando renuncia a pensar e a crer num fundamento. A humanidade inteira aliena-se quando se entrega a projeto unicamente humanos, a ideologias e a falsas utopias. A humanidade parece, hoje, muito mais interativa do que no passado: esta maior proximidade deve transformar-se em verdadeira comunhão. O desenvolvimento dos povos depende sobretudo do reconhecimento que são uma só família, a qual colabora em verdadeira comunhão e é formada por sujeitos que não se limitam a viver uns ao lado dos outros.
A comunidade familiar não anula em si as pessoas que a compõem e a própria igreja valoriza plenamente a nova criatura que pelo batismo se insere no seu corpo vivo. Deus que - nos associar também a esta realidade de comunhão: para que sejam um como nos somos um. A igreja é sinal e instrumento desta unidade, uma só carne.
Entretanto, a religião, por sua vez, precisa sempre de ser purificada pela razão, para mostrar o seu autentico rosto humano.
A cooperação no desenvolvimento não deve limitar-se apenas à dimensão econômica, mas há-de tomar-se uma grande ocasião de encontro cultural e humano.
A lei moral universal é um fundamento firme de todo o dialogo cultural, religioso e político e permite que o multiforme pluralismo das varias culturas não se desvie da busca comum da verdade, do bem e de Deus.
Os pobres são o resultado da violação da dignidade do trabalho humano, seja porque as suas possibilidades são limitadas (desemprego, subemprego), seja porque são desvalorizados os direitos que dele brotam, especialmente o direito ao justo salário, à segurança da pessoa do trabalhador e da sua família.
O que seria trabalho decente; significa um trabalho que, em cada sociedade, seja a expressão da dignidade essencial de todo o homem e mulher: um trabalho escolhido livremente, que associe eficazmente os trabalhadores, homens e mulheres, ao desenvolvimento da sua comunidade; um trabalho que, desde modo, permita aos trabalhadores serem respeitados sem qualquer discriminação; um trabalho que consinta satisfazer as necessidades das famílias e dar a escolaridade aos filhos, sem que estes sejam constrangidos a trabalhar; um trabalho que permita aos trabalhadores organizarem-se livremente e fazerem ouvir a sua voz; um trabalho que deixe espaço suficiente para reencontrar as próprias raízes a nível pessoal familiar e espiritual; um trabalho que assegure aos trabalhadores aposentados uma condição decorosa.
Os trabalhadores estrangeiros, não obstante as dificuldades relacionadas com a sua integração, prestam com o seu trabalho um contributo significativo para o desenvolvimento económico do país de acolhimento e também do país de origem com as remessas monetárias.
Todo o imigrante é uma pessoa humana e, enquanto tal, possui direitos fundamentais inalienáveis que hão-de ser respeitados por todos em qualquer situação.
Com um mercado globalizado, o consumidor ganhou grande importância. É através dele que toda a riqueza circula, podendo desta forma direciona la para pessoas e empresas que tem compromisso com a sociedade e responsabilidade social, contribuindo para a criação da cidade do homem.
O desenvolvimento é impossível sem homem retos, sem operadores econômicos e homens políticos que sintam intensamente em suas consciências o apelo do bem comum; de nos cristão!
Fascinada pela pura tecnologia, a razão sem a fé está destinada a perder-se na ilusão da própria omnipotência, enquanto a fé sem a razão corre o risco do alheamento da vida concreta das pessoas. A bioética deve estar atenta as novas técnicas na busca do alivio do sofrimento humano em virtude das moléstias. Entretanto técnicas como a manipulação de embriões humanos devem ser questionadas, pois na visão crista a vida começa com a fecundação do óvulo.
Perante os enormes problemas do desenvolvimento dos povos que quase nos levam ao desânimo e à rendição, vem em nosso auxílio a palavra do Senhor Jesus Cristo que nos torna cientes deste dado fundamental: Sem Mim, nada podeis fazer (Jo 15, 5), e encoraja: Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo (Mt 28, 20). Diante da vastidão do trabalho a realizar, somos apoiados pela fé na presença de Deus junto daqueles que se unem no seu nome e trabalham pela justiça.
A maior força ao serviço do desenvolvimento é um humanismo cristão que reavive a caridade e que se deixe guiar pela verdade, acolhendo uma e outra como dom permanente de Deus. O desenvolvimento tem necessidade de cristãos com os braços levantados para Deus em atitude de oração, cristãos movidos pela consciência de que o amor cheio de verdade, no caminho da construção da cidade do homem.
Cristão é que toda a família humana possa invocar a Deus como o Pai nosso. Juntamente com o Filho unigénito, possam todos os homens aprender a rezar ao Pai e a pedir-Lhe, com as palavras que o próprio Jesus nos ensinou, para O saber santificar vivendo segundo a sua vontade, e depois ter o pão necessário para cada dia, a compreensão e a generosidade com quem nos ofendeu, não ser postos à prova além das suas forças e ver-se livres do mal (cf. Mt 6, 9-13).
Desta forma, devemos assumir o batismo, alcançar a graça da liberdade introduzida na humanidade pelo evangelho e através da caridade, amor dado; alcançar unidade de Jesus. Somos uma só carne!
Que a nossa caridade seja sincera, aborrecendo o mal e aderindo ao bem.
Amai-vos uns aos outros com amor fraternal, adiantando-vos em honrar uns aos outros (12, 9-10).
(texto elaborado a partir da encíclica CARITAS IN VERITATE do SUMO PONTÍFICE BENTO XVI;)
Rodney, Silvan de Souza Pereira.
Cláudio - MG
Nú!!!! que post grande, não só pela quantidade de parágrafos mas pela dimensão e riquesa de detalhes.
ResponderExcluirQuem, diante das barbaridades atuais nunca se perguntou: onde a humanidade vai parar?
Eis as causas que fazem o ser humano se descaracterizar, e se esvaziar a ponto de perder o sentido da sua vida.
Existe uma engrenagem bem lubrificada que a favor do lucro, nos aliena, nos mata de fome, nos causa vazios, depressão, etc.
Só a luz de Jesus nos mostra de graça, o caminho da verdadeira felicidade.
Parabéns Silvan pelo post.
Luiz Augusto. Cláudio-mg
obrigado, grande lula!
Excluirabraço
obrigado, grande lula!
Excluirabraço