Parece
estranho, mais nossa vida é um constante processo de construções e
desconstruções. A todo tempo nos assentamos sobre nossas verdades e ao
confrontá-las com a verdade do outro reavaliamos o que somos e pensamos. Isso é
positivo. Porque realça a capacidade de aprendizado de cada ser humano.
Apreendemos com a vida, com as pessoas, com Deus, enfim ... Podemos rever nosso
caminho, refazer nossas escolhas, recomeçar ... Fim de ano é uma época propícia
para isso. As pessoas estão abertas a mudança. Reformas na casa. Mudanças no
visual. Faxinas no armário. Tudo isso revela o desejo de sermos melhores a cada
dia.
Hoje quando
olhamos para trás nos envergonhamos de certas atitudes. Nos arrependemos de
certas escolhas. Sofremos por causa de determinados erros. No entanto, é
possível refazer. Recomeçar outra vez. Tentar acertar. O Sacramento da
Reconciliação ou Penitência, ou simplesmente Confissão como chamamos, realça
este aspecto de nossa vida. Esta dimensão de abertura, de mudança, de crescimento.
Muitos tem na confissão uma espécie de tribunal onde Deus por meio do sacerdote
nos condena, repreende e pune. No entanto, trata-se de uma experiência de
libertação, e porque não dizer terapêutica, onde nos colocamos diante de nossas
misérias e proclamamos que a graça de Deus é maior em nossas vidas.
No
Sacramento vivemos essa dimensão. A misericórdia do Pai que nos assume, nos
abraça e nos eleva. “Depressa, tragam a melhor túnica para vestir meu filho. E
coloquem um anel no seu dedo e sandálias nos pés. Peguem o novilho gordo e o
matem. Vamos fazer um banquete. Porque, este meu filho estava morto, e tornou a
viver. estava perdido, e foi encontrado” Lc 15,22-24. O perdão renova,
reintegra, refaz.
Assim
para celebrar esta experiência de reconciliação é preciso admitir o erro.
Muitas vezes temos dificuldade para isso. Não admitimos nossa culpa. Ë sempre o
outro quem erra. A culpa é do outro. Assumir-se pecador é o primeiro passo para
sentir-se livre diante do pecado. Trata-se de uma experiência profundamente humanizadora.
Admitir meus limites. Meus fracassos. Ser limitado em si não é algo negativo,
pelo contrário. Não somos super-heróis. As vezes nos cobramos mais do que
podemos ou temos condições. O problema está quando diante de nossa limitação
nos dendenciamos ao mal. Aqui é uma
sabedoria, reconhecer o mal uso da liberdade: “Pai, pequei contra Deus e contra
ti; já não mereço que me chamem teu filho” Lc 15,19.
Contudo,
“por insondável e gratuito mistério da divina disposição, acham-se os homens de
tal modo sobrenaturalmente unidos entre si, que o pecado de um prejudica aos
outros, como também a santidade de um traz benefícios aos outros”. Deste modo a
penitência exige sempre a reconciliação com os irmãos, aos quais o pecado
prejudica. Isso se expressa pelo fato de buscarmos na igreja a mediação do
perdão de Deus. Muitos pensam: eu me confesso diretamente com Deus. O que é
extremamente absurdo. Nosso erro sempre afeta o ouro. É O ministro da igreja
realça a dimensão comunitária do sacramento. Ademais, é um gesto de humildade,
de reconhecimento de nossa pequenez, e acima de tudo, de abertura a graça de
Deus e a ajuda dos irmãos.
O gesto
de pedir perdão se torna autêntico quando ele se vincula a um projeto de vida. Eu
quero ser melhor! O arrependimento precisa converter-se em ato. Propósito de
mudança. Aqui, vale cada um confrontar-se com o projeto de Deus e perceber as
diferenças ou contradições existentes em sua vida. O que Deus espera de mim,
como pai e mãe de família? Como filhos? Como irmão? Como profissional? Como
pessoa? Como cristão? A matéria de confissão nasce dessa consciência. É preciso
diagnosticar em nós o que nos impede, ou nos atrapalha chegar a santidade.
A partir deste
momento, nos lançamos no horizonte da grandeza de Deus. Que sonhou para nós um
sonho bom. Que acredita no sucesso de cada um de nós. Que deposita em nós sua
confiança. Como quem escreve a história de uma vida, é preciso agora passar a
página do erro e colocar-se a escrever novas linhas. O Sacramento da
Reconciliação nos recoloca neste caminho, o caminho do bem, da verdade.
O Natal é
tempo de renovar em nossos corações a certeza de que somos bons. Afinal, Deus
se fez homem para nos lembrar isso: somos d’Ele. A mensagem dos anjos pastores nos conforta: “Coragem, não tenhais
medo.” É preciso coragem para diante do erro nos reerguermos. Construir um
caminho novo. Construir relações novas. Construir enfim uma vida nova. Uma boa
confissão talvez seja o primeiro passo para você celebrar bem o natal. Deixar o
homem velho para deixar-se invadir pela luz de Deus. Abrir mão de coisas que
tem trazido sofrimento e dor a você e as pessoas que lhe cercam. Fazer uma
verdadeira faxina espiritual.
Faça essa
experiência, deixe a vida se renovar em você.
Pe. Carlos
Henrique
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