terça-feira, 28 de julho de 2009

PROFETA: SERVO DA PALAVRA

Os cristãos católicos, quando mergulhados nas águas do Batismo, recebem, entre outras, a missão de ser profeta. Dessa missão nunca poderão se esquivar, pois ela é parte essencial da vida cristã.

Uma concepção equivocada da figura do profeta o concebe como um visionário, um adivinho, alguém capaz de prever os fatos. Tal idéia não se ajusta ao que diz a fé cristã sobre o profeta e acaba por dificultar a vivência concreta da missão.

A fé cristã ensina que a figura do profeta é presença admoestativa e necessária para o mundo. O profeta coloca-se a serviço da Palavra e deve anunciá-la com a voz e a vida e denunciar tudo o que está em desacordo com ela. Aqui reside outra dificuldade na vivência da dimensão profética do cristianismo. O anúncio da Palavra não pode ser feito apenas por palavras; não se resume a belos discursos e eloqüentes pregações. Ele precisa estar em sintonia com a vida concreta de quem o faz. O comportamento, o jeito de ser e de viver pode “desdizer” tudo que se diz. E, além disso, aprende-se muito mais com o que se vê fazer do que com o que se ouve dizer. “As palavras movem, os exemplos arrastam.”

A denúncia, constitui também, outra dificuldade para que o cristão seja um autêntico profeta. Denunciar é comprometer-se, é “colocar a cara a tapa”, é correr o risco de sofrer. E diante de tais conseqüências, é melhor fingir que não se vê; melhor deixar tudo como está e não se atrever.

Em se tratando desse assunto, vem à nossa mente, a lembrança de Dom Hélder Câmara, Bispo de Olinda e Recife, nos anos 1964 - 1985, cujo centenário natalício celebramos neste ano. A memória desse Bispo é associada à profecia. “Isso porque Dom Hélder peregrinou pelo mundo anunciando esperança e denunciando injustiças que o ser humano cometeu contra outro ser humano, sobretudo quando da ditadura militar no Brasil. Tais denúncias eram carregadas do anúncio de Jesus Cristo com sua mensagem de salvação a toda a humanidade e o apelo à convivência fraternal. Não por acaso ele foi perseguido e rejeitado.”

O profeta olha o mundo com os olhos da fé e discerne, mesmo em meio a situações difíceis e obscuras o que Deus fala através dos acontecimentos. Embora seja uma presença que incomoda e questiona, sua ação abre caminho para a intimidade com Deus que insiste em encontrar os humanos. Isso porque a mensagem da profecia visa reconduzir as pessoas a Deus, sobretudo nos momentos em que se esquecem do sentido autêntico da fé cristã: ouvir o Evangelho e efetivá-lo na vida.

Por tudo isso, os cristãos são chamados a serem profetas e, para que efetivamente o sejam, devem ouvir assiduamente a Palavra e proferi-la com a própria vida diante dos homens e mulheres que encontrarem.

Pe. Emerson Cunha

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